Termina esta semana, dia 25, a exposição de Joana Vasconcelos, no Palácio Nacional da Ajuda (clicar) em Lisboa. Fazia
um bom tempo que desejava apreciar a exposição da renomada artista plástica. Foi caso para verificar a veracidade do ditado
popular: “à terceira é de vez!” pois fui duas vezes até lá e em ambas não havia
mais ingressos para o dia. Domingo foi o dia! Segue uma breve descrição da artista.
Joana
Vasconcelos é portuguesa nascida em Paris em 1971, vive e trabalha em Lisboa e
no circuito internacional de arte contemporânea. Seu trabalho interpreta a
realidade através da análise das mentalidades e das iconografias da sociedade
atual, como diz Miguel Amado, comissário da exposição no Palácio Nacional da
Ajuda. Sua prática consiste na desconstrução dos valores, hábitos e costumes da
civilização ocidental para questionar a identidade pessoal e coletiva. Adota
imagens e objetos característicos de onde vive e trabalha (Lisboa), como matéria
prima das suas obras.
Representou
Portugal na Bienal de Veneza em 2013, depois do enorme sucesso da exposição quefez no Palácio de Versailles (clique no link e façam uma viagem especial pela exposição no mítico palácio frances... vale a pena!!) em 2012, onde foi a mais jovem artista contemporânea
a expor sua obra e que teve o maior número de visitantes dos últimos 50 anos (mais de 1 milhão e 600 mil visitantes).
Como
acho que o artista vale por sua obra e não pelas descrições biográficas que eu possa
pesquisar e escolher, deixo-os com alguns exemplares de seu vasto trabalho.
Espero que apreciem.
Jardim do Éden (Maria Pia)
é uma instalação produzida com recurso a flores artificiais. As flores
emergem de cilindros revestidos a Lycra negra. No interior dos cilindros,
luzes, motores síncronos e discos transparentes policromados, em rotação,
acionam, nas flores, um efeito de condução de luz semelhante ao produzido pela
fibra ótica, gerando deslumbrantes variações cromáticas, ilusão de movimento e
sons que associaríamos a insetos ou ao sopro leve do vento. Na sala totalmente
escura, guiamo-nos pelo caminho iluminado das flores.
<========= Petit Gâteau apresenta-se
como um enorme cupcake construído através da acumulação de diferentes
camadas de formas de plástico usadas para brincar na praia. O gigantismo e o
colorido da obra captam a imediata atenção do público não deixando, ainda
assim, de fazer adivinhar o vazio consequente dos volumes.
Bragança faz parte das obras em cerâmica e croché, desenvolvidos a partir de um núcleo restrito de faianças desenhadas por Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905, está entre os mais destacados artistas
portugueses do século XIX) ======>
Alorna |
Amélia |
Apolo e Milord |
Todas estas obras estão inseridas no lote de Rafael Bordalo Pinheiro. São trabalhadas em vidrado cerâmico pintado e cobertas com renda em crochê dos Açores, Portugal. Fazem ainda parte destas obras Casanova, Eos e Aurora.
Formentera e Joaquina |
Imarí e Esther (cobras) |
Zeus e Júpiter |
Quarto da rainha Maria Pia |
Le Dauphin et la Dauphine |
Le Dauphin et la
Dauphine frente a frente duas enormes lagostas em cerâmica, engalanadas
com sensuais rendas em croché, admiram-se como dois amantes à mesa ==========>
<====== Maria Pia é uma enorme vespa em cerâmica Bordalo Pinheiro, revestida em fino tecido de crochê dos Açores que ornamenta os aposentos da rainha de mesmo nome.
<== A Todo o Vapor fonte robotizada constituída por ferros a vapor. Interpretando pétalas de uma flor, os ferros abrem e fecham numa surpreendente e sincronizada coreografia de inspiração doméstica.
Tropicália Um carrinho auxiliar de
cabeleireira é tomado por um revestimento em croché em lã feito à mão, pontuado
por adereços brilhantes e femininos. ===>
War Games o interior e exterior servem para hospedar universos opostos. Um automóvel preto, modelo Morris Oxford da
década de 60, recebe no exterior dezenas de armas de brinquedo apontadas para
trás e linhas de LED vermelhos que acendem e apagam, simulando a velocidade,
tal como os traços que representam movimento em um desenho animado. No interior
agitam-se dezenas de bonecos coloridos numa clara alusão ao universo infantil. O
exterior negro, bélico e negativo contrasta com o ambiente infantil, festivo e
positivo do interior.
Carmen tem a forma de um lustre de silhuetas redondas, obra homônima da
ópera de Bizet, constrói-se com fitas em veludo preto e simples brincos
coloridos em plástico, combinando a erudição, a cerimonialidade trágica e a
vulgaridade festiva. É acompanhada de música, a trilha sonora da ópera de Bizet. =================>
<==== Perruque é inspirada na exuberância dos penteados que outrora se exibiam
em Versailles, com forma ovalada, em ébano e amaranto, combinada com a
presença de cabelos artificiais. Estranho casulo, vagamente semelhante aos
ovos Fabergé, decorado com finos embutidos e aplicações metálicas douradas,
reminiscência dos mobiliários português e francês.
<== Brise é um sofá de
rosas em plástico e tem até gotas de orvalho. O título renova o apelo ao olfato. Vemos e
cheiramos.
Coração Independente apresenta-se sob a forma de um enorme
coração de Viana, peça icônica da filigrana portuguesa, pacientemente
preenchido com talheres de plástico vermelho (existe em preto e amarelado) ===>
Lilicoptère é um helicóptero Bell 47 revestido a folha de ouro e
decorado com milhares de brilhantes Swarovski tem o exterior da cabine e as hélices decorados por uma extravagante cobertura de penas de
avestruz em tons salmão, rosa e laranja. A abertura na frente da cabine,
revela um interior suntuoso, de madeiras trabalhadas, dourados e tapetes
bordados. ===================>
<=== A noiva é um imponente lustre, digno de
pontuar o mais nobre dos salões europeus, exibe uma cândida cascata de
pendentes brilhantes. Os milhares de pendentes, que julgávamos vidros ou
cristais brilhantes, são afinal imaculados absorventes internos femininos.
Marilyn, é a peça mais procurada da exposição, incontornável, assume a forma de um elegante par de sandálias de salto
alto, cuja escala ampliada resulta do uso de panelas e respetivas tampas. Remete
a figura de Marilyn Monroe. A improvável associação de panelas e sandálias de
salto alto, dois símbolos paradigmáticos dos domínios privado e público da
mulher, propõe-nos a revisão do feminino à luz das práticas do mundo contemporâneo.
O recurso a panelas, a que associaríamos a tradicional dimensão doméstica da mulher,
para reproduzir uma enorme sandália de salto alto, símbolo da beleza e
elegância exigidas no desempenho social, contradiz a impossibilidade da relação
dicotômica do feminino nos planos doméstico e social.
Confesso que fiquei extremamente bem impressionado com a exposição. Valeu a pena as mais de duas horas na fila de espera para entrar (mesmo com ingresso comprado). Para quem ainda não viu e tem possibilidade para tal eu recomendo vivamente. Qualquer destas obras de arte fica muito mais linda se observada em todos os seus pormenores. Tentei através da fotos, quase todas minhas (exceto "Marilyn" pois a sala fica lotada) mostrar um pouco do que vi. Espero que tenham gostado. Este post em especial, devido às fotos, deu um trabalhão gigantesco para conseguir "formatar". É quase impossível conseguir deixá-lo 100% correto para todos os browsers. A execução foi feita no Chrome, com resolução mínima de 1600 x 1200 e aparece com todas as fotos e textos em seu devido lugar. Para outros browsers nem sempre foto e texto ficam perfeitos pelo que peço desculpas. Abraço, Flávio A. Portalet Jr.