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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Guy Fawkes, Anonymous, atentados em Paris, estado islâmico

Que conexão é possível fazer entre um soldado conspirador inglês, o grupo mundial de hackers "Anonymous" -clicar para ler sobre-, os atentados em Paris e o famigerado "estado islâmico"? Diversas e variadas. Começamos por falar de Guy Fawkes, conspirador entre os séculos XVI/XVII, e de sua máscara, marca registrada dos 'Anonymous', que indignados com os atentados em Paris, despoletaram cyberataques sem precedentes, ao auto proclamado 'estado islâmico'.

Guy Fawkes (Iorque, 13 de abril de 1570  Londres, 31 de janeiro de 1606), foi um soldado inglês católico que teve participação na "Conspiração da Pólvora" (Gunpowder Plot) na qual se pretendia assassinar o rei protestante Jaime I da Inglaterra e os membros do Parlamento inglês durante uma sessão em 1605. 
Os conspiradores pretendiam explodir o Parlamento utilizando trinta e seis barris de pólvora estocados sob o prédio durante uma sessão na qual estariam presente o rei e todos os parlamentares. Guy Fawkes, como especialista em explosivos, seria responsável pela detonação da pólvora. Entretanto, eles notaram que o ato poderia levar à morte de diversos inocentes e defensores da causa católica. Assim, enviaram avisos para que mantivessem distância do parlamento no dia do ataque. Para sua infelicidade (eu diria "ingenuidade"), um dos avisos chegou aos ouvidos do rei, que ordenou uma revista no prédio. Assim acabaram encontrando Guy Fawkes, guardando a pólvora.
Ainda nos dias de hoje o rei ou rainha vai até o parlamento apenas uma vez ao ano para uma sessão especial, sendo mantida a tradição de se revistar os subterrâneos do prédio, antes da sessão.
Uma tradição sardônica dá a Fawkes o título de ser "o único homem que entrou no parlamento com intenções honestas". (pior é que deve ser verdade mesmo!)

O grupo de hackers Anonymous voltou a ameaçar o Estado Islâmico, depois dos ataques cometidos na última sexta-feira em Paris. Num vídeo publicado no seu canal no YouTube e num tweet na sua conta oficial, o grupo declarou guerra aos terroristas e assegurou que “nada fará parar” o movimento de agir contra os extremistas. No vídeo de dois minutos e meio, um elemento dos Anonymous, sob a icónica máscara de Guy Fawkes, promete que será “lançada a maior operação de sempre” contra o Estado Islâmico (EI), que deverá “esperar ciberataques massivos”. “Anonymous de todo o mundo vão perseguir-vos. “Devem saber que vamos encontrar-vos e não vamos deixar-vos ir”… “A guerra está declarada. Preparem-se”, acrescenta a voz por trás da máscara.
Desde os ataques ao Charlie Hebdo e a um supermercado judaico em Paris, os hackers desmantelaram perto de 149 sites associados ao EI, segundo dados recolhidos pela revista Foreign Policy. Além das páginas, foram atacadas mais de 100 mil contas no Twitter e eliminados 5900 vídeos de propaganda extremista. Assista ao vídeo em: Anonymous

Independente do alcance que as ações possam ter - e já se mostraram altamente eficientes anteriormente - é mais uma forma de combate a este amontoado de fanáticos estúpidos que insistem em desvirtuar aquilo que prega o verdadeiro islamismo. A Europa está em estado de choque e de alerta. Há desconfiança em tudo e todos. Parece não existir mais locais seguros. A luta apenas começou. A meu ver, era de vital importância que as nações ameaçadas (quase todas, atualmente) não se restringissem a 'apenas bombardear' posições do "e.i." além fronteiras, quando milhares de ativistas suicidas nasceram e estão dentro de suas próprias fronteiras! É preciso rever muito do segregacionismo que cada povo/governo tem infligido aos seus nacionais, só porque são descendentes de 'ex-colônias'. Será que é preciso chamar-se "Zinedine Zidane" para poder ser um 'bom argelino' e um francês legítimo? É hora de rever conceitos antes que sejamos engolidos pelo preconceito. Mais de 6.200.000 franceses (10% da população) é de descendência muçulmana. Muitos milhares de militantes recrutados pelo "e.i." saíram da Europa, sobretudo da França e muitos mais -simpatizantes-, vivem em solo europeu. É hora de coragem, mudanças, enfrentamento (não vamos aceitar a imposição de um 'califado na Europa!!!) mas também de tolerância para os que já vivem e nasceram nestes países. Cuidar deles para não ter que "tomar cuidado com eles". Flávio A. Portalet Jr.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Windows 10 = O muito bom do Win7 + quase nada do Win8, grátis!

Ao que tudo indica, este é o melhor Windows criado pela turma de Redmond (cidade sede mundial da Microsoft, no Estado de Washington, noroeste dos USA). Parece que aprenderam alguma coisa com o muito ruim Windows 8, que nunca caiu nas graças dos consumidores. Por outro lado, mantiveram o que havia de melhor no muito bom Windows 7, até agora a “joia da coroa” Microsoft.


No dia 29 deste mês, chegará a muitos e muitos milhões de dispositivos pelo mundo afora. Será o primeiro sistema operativo gratuito, para quem tem o Win7 ou o Win8.
Satya Nadella, atual CEO da empresa (sucedendo a Steven Ballmer - que havia sucedido a Bill Gates), modificou a forma como a Microsoft se relacionava com as plataformas concorrentes, além de apostar forte na mobilidade e no conceito de “Cloud” (nuvem).

O Windows 10 é considerado por seus criadores como uma ‘plataforma universal’, para ligar todos os dispositivos, independente do tamanho e características de seus ecrãs. Ser gratuito ajudará a expandir este conceito. Outro desafio é aumentar a presença da Microsoft nos dispositivos móveis onde tem fraca presença pois faltam aplicativos para o Windows Phone. Os programadores desenvolvem basicamente para o IOS (Apple) e Android. Em uma jogada muito interessante, o novo Windows 10 ‘aceitará’ as App’s desenhadas para outros sistemas, com pouquíssimas alterações para seus programadores.

Questões mais comuns:
1.    É gratuito mesmo?
Sim, até 29 de Julho de 2016 é 100% gratuito, incluindo todas as atualizações necessárias. Pode instalar nos mais diversos dispositivos, apenas sendo conveniente fazer a reserva individual (smartphone, tablet, Xbox, etc). Quem não tem o Win 7 ou 8, terá que pagar.
2.    Qual a configuração mínima do computador para poder instalar o Win10?
Sistema Operativo atualizado (Win 7 SP1 ou Win 8.1)
Processador de 1Ghz ou mais
Memória RAM de 1 GB para a versão 32 bits e de 2 GB para a 64 bits
Espaço em disco: 16 a 20 Gigas (32/64 bits)
Gráficos: Direct X 9 ou superior
Ecrãn mínimo: 1024 x 600 px












Principais “novidades”
» Vários ambientes de trabalho: Como já acontece aos utilizadores de sistemas como o Mac IOS, poderá ter diversos ambientes de trabalho ao mesmo tempo, saltando de um para o outro conforme necessidade. Muito bom para utilização profissional.
» Restyling de Apps: Música, fotos, mapas … tudo sofreu uma profunda mudança estética e de funcionalidade. Para melhor, desta vez.
» Notificações têm nova ‘vida’: Muito importantes no ecrã do tablet e do smarphone. Nos computadores ganhou uma área especial e organizada de acordo com sua preferência, mostrando as notificações por ordem de hora, data…
» Menu “Iniciar” está de volta: Desapareceu com o ruim Windows 8 e voltou com pequenas melhorias. Pode ter aí todos os seus “atalhos”, deixando o ambiente de trabalho limpo de ícones!
» CORTANA: Assistente virtual inteligente (clicar para ver) lançado no Windows Phone 8.1 . Seu nome vem da Cortana, personagem de inteligência artificial da série Halo, com Jen Taylor, dubladora da personagem, regressando sua voz no assistente pessoal. Ainda não estará disponível em português. Notícias de hoje, dia 20, indicam que já roda em Android!
Ela vai ouvir o que dizemos e aprender com nossos ritmos e hábitos. Perguntando, por exemplo, “onde posso jantar”, ela responderá com base em seus gostos e sobretudo sua localização, apresentando uma lista com todas as informações.
» Azulejos Dinâmicos: Não acabaram Infelizmente), apenas estão ‘escondidos’… ainda bem!!!!
» Windows 10, Holográfico: Utilizando os óculos Hololens (clicar no link para ver) poderá criar hologramas com os quais poderás interagir. Com a aplicação 3d Builder integrada, haverá muitas possibilidades de interação.
» Windows Hello e Passaport: Integração da autenticação biométrica no Win10, chegará somente no final do ano. Permitirão reconhecer o rosto do utilizador, sua impressão digital, tornando desnecessário o uso de password em diversos sites e facilitando muito a utilização no smartphone.
» Snap: Quando tiver várias aplicações abertas (ou apps) poderá arrastá-las para um canto e o Windows organiza tudo, de forma a poder ver todas ao mesmo tempo.
» Internet Explorer: Da forma como o conhecíamos, desaparece. Surge o “Microsoft EDGE” e vem integrado ao Win10. Integra tudo que interessa à navegação na Web (favoritos, listas de leitura, histórico, downloads .. tudo em um único botão). Poderá fazer anotações diretamente em uma página Web, antes de partilha-la com alguém.

Resumindo, para quem utiliza PC, dificilmente poderá ficar, a médio prazo, sem instalar o novo sistema operativo da Microsoft. Flávio A. Portalet Jr.

sábado, 23 de maio de 2015

Lily, a câmera reinventada. Um drone que te acompanha, fotografa e filma.

Chega de 'selfies', compre um Drone que te acompanha, faz vídeos e fotos e segue o dono. Uma pequena empresa de Silicon Valley vai lançar (provavelmente no começo de 2016) um modelo híbrido que também é à prova d’água. 
A Lily Câmera (CLICAR no link) como é chamada, já está em pré-venda no site oficial da marca, por U$D 519,00 (bem abaixo dos U$D 999,00 previstos).
"É uma câmera voadora que você pode literalmente jogar no ar e ela começará a filmar você e segui-lo onde você for", disse Henry Bradlow, CTO da Lily, durante demonstração em São Francisco, Califórnia.
Quando jogado ao ar, os sensores do drone reconhecem a ação, fazendo com que ele paire antes que a gravidade o derrube. 
Graças a um dispositivo que o utilizador carrega junto de si, o aparelho também sabe onde se encontra o objeto a ser filmado ou fotografado. Para que isso seja possível, ele possui um localizador GPS e uma conexão Wi-Fi.
"Ele também pode decolar a partir de sua mão ou do chão, se você quiser", disse o mesmo executivo. 










A câmera foi  construída dentro do drone o que permite o modelo ser à prova d’água.
O aparelho também tenta identificar,  por exemplo, se o utilizador está fazendo algo espetacular, como um salto ou alguma manobra e muda sua câmera automaticamente para o modo slow motion. 


Segundo consta, consegue sobrevoar a 30 metros de distância do utilizador e a 5 metros próximo ao chão, mas precisa ser utilizado distante de obstáculos.

A Lily Câmera sai por USD 499,00 na pré-venda, um significativo desconto em relação aos USD 999,00 - valor oficial do drone no ano que vem. Preencha a "pre-order" e boas fotos! Flávio A. Portalet Jr.

terça-feira, 7 de abril de 2015

Billie at 100 - A Century of Lady Day - Billie Holiday 100 anos


Billie Holiday (Filadélfia, 7 de Abril de 1915 — Nova Iorque, 17 de Julho de 1959), por vezes, mais conhecida como Lady Day, é por muitos considerada a maior de todas as cantoras do jazz, senão a maior cantora de todos os tempos.
Quando nasceu, seu pai, Clarence Holiday, tinha 15 anos de idade e sua mãe, Saddy Fagan, apenas 13 anos! Seu pai, guitarrista e banjoísta, abandonou a família quando Billie ainda era bebê, seguindo viagem com uma banda de jazz. Sua mãe frequentemente a deixava com familiares. Ela teve uma infância difícil.

Menina americana negra e pobre, Billie passou por todos os sofrimentos possíveis. Aos 10 anos foi violentada sexualmente por um vizinho e internada numa casa de correção para meninas vítimas de abuso. Aos 12, trabalhava lavando o chão de prostíbulos. Aos 14 anos, morando com sua mãe em Nova York, caiu na prostituição.


Sua vida como cantora começou em 1930. Estando mãe e filha ameaçadas de despejo por falta de pagamento de sua moradia, Billie sai à rua em desespero, na busca de algum dinheiro. Entrando em um bar do Harlem, ofereceu-se como dançarina, mostrando-se um desastre. Penalizado, o pianista perguntou-lhe se sabia cantar. Billie cantou e saiu com um emprego fixo.
Billie nunca teve educação formal de música e seu aprendizado se deu ouvindo Bessie Smith e Louis Armstrong.
Após três anos cantando em diversas casas, atraiu a atenção do crítico John Hammond, através de quem ela gravou seu primeiro disco, com a big band de Benny Goodman. Era o real início de sua carreira. Começou a cantar em casas noturnas do Harlem (Nova York), onde adotou seu nome artístico.
Consagrou-se apresentando-se com as orquestras de Duke Ellington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw, e ao lado de Louis Armstrong. Billie Holiday foi uma das mais comoventes cantoras de jazz de sua época. Com uma voz etérea, flexível e levemente rouca, Sua dicção, seu fraseado, a sensualidade à flor da voz, expressando incrível profundidade de emoção, a aproximaram do estilo de Lester Young, com quem, em quatro anos, gravou cerca de cinquenta canções, repletas de swing e cumplicidade. Lester Young foi quem lhe apelidou "Lady Day".
A partir de 1940, apesar do sucesso, Billie Holiday, sucumbiu ao álcool e às drogas, passando por momentos de depressão, o que se refletia em sua voz. Pouco antes de sua morte por overdose de drogas, Billie Holiday publicou sua autobiografia em 1956, Lady Sings the Blues, a partir da qual foi feito um filme, em 1972, tendo Diana Ross no papel principal.
Morreu aos 44 anos, dona da voz feminina mais famosa do jazz e talvez, de sempre.

Vejam ainda o site oficial: http://www.billieholiday.com/

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie - Eu não sou Charlie

A marcha parisiense (11) reuniu mais de 1,5 milhão de cidadãos. Desfilaram importantes símbolos da República: a tricolor (bandeira), Joanna D’Arc, e Marianne, a simbólica mãe da nação que encarna os valores “Liberté, Égalité, et Fraternité” - liberdade, igualdade, fraternidade -. 
Lia-se em camisas, bandeiras, cartazes e faixas: “Je suis Charlie! Nous sommes Charlie!” As caricaturas do Charlie Hebdo estavam por todo lado. Muitos escreveram em suas mãos ou testas um grande “C”, para Charlie.  
No entanto, o ataque contra o semanário Charlie Hebdo foi um ato terrorista, não contra a liberdade de imprensa. Se o Le Monde, o Libération ou o Le Figaro tivessem sido o alvo, aí teria sido um ataque contra a liberdade de imprensa.
Jamais o editorial dos vespertinos francêses teriam defendido a tese de que "o profeta é um jihadista". E o Le Monde não publicaria uma charge de Maomé com uma bomba no turbante, como o fez o semanário Charlie Hebdo. A liberdade de imprensa conhece seus limites - mais não seja o do bom senso em um país com mais de 6 milhões de muçulmanosgrande parte deles vivendo em condições precárias - especialmente quando o tema envolve religião. 
Não querendo ser contraponto de nada, interrogo-me com a atitude enervante (para não dizer repugnante) de muitos governantes europeus e de outros países - cerca de 60, ao todo -, que ao longo dos 200 metros mais vigiados do planeta, desfilaram suas hipocrisias sem o menor constrangimento. Todos queriam participar de alguma forma, até mesmo o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz, que um dia depois do massacre ordenou que chicoteassem  um blogueiro saudita com 1.000 chibatadas -por insultar o Islã- enviou seu apoio à manifestação... caricato. Líderes que fomentam justamente o ira, a revolta e a xenofobia, caminharam como se fossem emissários da paz. Que mundo podre é este? Como a opinião pública é tão grosseiramente enganada e ainda se comove com este tipo de gente (??), muitos deles não muito diferentes dos facínoras que repudiavam naquela marcha?
Hoje, quarta-feira 14, três milhões de exemplares de Charlie Hebdo serão vendidos nos quiosques, em vez dos habituais 30 mil. Oito páginas, em vez das costumeiras dezesseis.  
O jornal conta agora com meio milhão de euros para garantir a sua continuidade vindos do Fundo para a Imprensa e o Pluralismo e do Fundo para a Inovação Digital da Imprensa (financiado pelo Google). O governo francês já anunciou que vai encaminhar um milhão de euros para garantir o futuro do jornal satírico, que também está a ser alvo de campanhas informais de subscrição e recolha de donativos. Estranho que dias atrás o mesmo tabloide leiloava objetos para conseguir ir para as bancas. Do nada surgem fundos públicos de mais de 1 milhão de euros. Será o preço que o governo francês paga para aparecer como "um governo forte e determinado" no combate aquilo que fomentam mundo afora? É bastante estranho que dias atrás os líderes do 'Hebdo' debatiam-se com a necessidade de leiloar bens para conseguir lançar mais uma edição e, tendo sido assassinados, aí sim a 'Charlie' virou prioridade do Ministério da Cultura francês. Aproveitamento político descarado e nojento.


Em novembro de 2011, um coquetel molotov havia provocado um incêndio e destruído a velha redação do semanário satírico. À época, o ataque terrorista tinha elos com o fato de o semanário ter sido intitulado Charia Hebdo  (Semanário da Lei Islâmica). Na capa, uma caricatura de Maomé, convidado para ser o redator chefe da edição. Dizia a charge: “100 chicotadas para aqueles que não morrerem de rir”.
Charb recebeu várias ameaças de morte. Desde então o diretor do semanário vivia sob proteção policial. Idem a nova redação do jornal. É claro que Charb e os jornalistas/caricaturistas do semanário satírico não mereciam ser vítimas dessa barbárie. No entanto, aceitaram o risco.

Voltando um pouco no tempo, a gênese das ideias dos terroristas de Paris, assim como a de grupos como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, está na Arábia Saudita. Desde 1932, quando foi fundada, até hoje, a Arábia Saudita existe como Estado graças a uma aliança formada por uma família, os Bin Saud, e um establishment religioso inspirado no teólogo Muhammad ibn Abd al-Wahhab que viveu entre 1703 e 1792 e era fortemente influenciado pelo teólogo do século XIII Taqi al-Din ibn Taymiyya, que pregou a retomada do passado glorioso da civilização muçulmana por meio de um retorno às origens do Islã, cuja base seria a interpretação literal do Alcorão e um estilo de vida igual ao de Maomé – preceitos da doutrina hoje conhecida como salafismo. Como discípulo de Ibn Taymiyya, Al-Wahhab desenvolveu o wahabismo, a versão saudita do salafismo.
Este “avanço” ideológico criou um gigantesco desafio para os sauditas: hoje, a principal contestação ao regime da família Saud vem de wahabistas que não consideram o governo suficientemente islâmico.
Para contê-los, o governo usa dois expedientes: por um lado, usa seus petrodólares para proporcionar inúmeros benefícios sociais a suas populações. Para quem ainda assim insiste em ser dissidente, jihadista ou não, há um draconiano sistema de controle social e político, que subjuga as mulheres, inclui uma polícia moral e punições como crucificações e decapitações. Responsável por cuidar do lugar onde o Islã nasceu – as cidades de Meca e Medina –, a Arábia Saudita pune os "ataques à religião" com atroz severidade, legitimando ao resto do mundo muçulmano a punição da blasfêmia. A mais recente vítima é o blogueiro liberal Raif Baddawi. Na quinta-feira 8 de janeiro, a Anistia Internacional confirmou que Baddawi foi condenado a mil chibatadas por "insultar o Islã" – 50 por semana, durante 20 semanas.
Além disso, a aliança da família Saud com os EUA e os países europeus, entre eles a França, continua sendo fundamental para ambos os lados. Juntos, Estados Unidos e União Europeia apoiam de maneira firme as ditaduras do Oriente Médio, que retiram de seus cidadãos toda possibilidade de exercer oposição, a não ser a religiosa.
Sem parlamentos, partidos, imprensa, sindicatos e movimentos estudantis independentes, sobram as mesquitas, infestadas de clérigos que pregam a violência. Em um ambiente de quase total ausência de espaço democrático, não há chance de debate livre sobre a religião, e o radicalismo prospera. Diante da generalizada percepção de que os muçulmanos estão sitiados pelo Ocidente desde a colonização europeia, pessoas e instituições ocidentais tornam-se alvo prioritário.
Uma lógica semelhante se reproduz na Europa. As comunidades muçulmanas têm enorme dificuldade em se integrar e geram uma série de indivíduos ressentidos – com a pobreza, a falta de perspectivas e o preconceito. Alienados e marginalizados, os jovens muçulmanos, cujos índices de desemprego são ainda maiores que os dos jovens europeus, por sua vez enormes, ficam à mercê da radicalização propagada por clérigos extremistas.
É nesses caldos culturais e sociais, seja na Europa, seja no Oriente Médio, que o jihadismo floresce.
Cabe questionar, no entanto, se franceses (ingleses, alemães, norte-americanos, etc) vão tratar o atentado como uma ofensiva civilizacional do Islã contra o Ocidente, fortalecendo extremistas de todos os lados, como desejavam os terroristas, ou vão debater as raízes da arriscada aposta feita por seus governos – conciliar a aliança a uma teocracia sociopata com a obrigação de proteger seus cidadãos, defendendo valores democráticos aqui, mas apoiando seus violadores lá.
Li que, a última coisa que o Ocidente quer é rever seus laços espúrios com a Arábia Saudita, Catar , Emirados e outros países lacaios. Para a máquina de guerra norte-americana quanto mais ódio e vingança melhor, assim arrasta vários outros países para a guerra , países estes que logo-logo vão estar comprando mísseis que custam milhões de dólares a unidade.
Também li que é muito tênue a linha que separa as manifestações públicas de solidariedade do seu aproveitamento político. Assim como também é difícil, pela sensibilidade e repulsa que os temas nos provocam, analisarmos o envolvimento dos políticos nessas mesmas manifestações. Para o fazermos é essencial que nos debrucemos sobre algumas das suas atitudes no exercício das suas funções públicas que, sejamos claros, muitas vezes são o oposto daquilo que apregoam.
Mas é importante frisar: “Não somos todos Charlie” porque não se tratou de um ataque contra a “imprensa livre”. Há muito para desvendar nos próximos tempos. Estejamos atentos. Não vamos ser 'vaca de presépio' Flávio A. Portalet Jr.